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Foto do escritorEstefânia Barsante

Porque eu não consegui comprar shampoo

Então lá estava eu: na Target mais perto de casa, roupa de resolver coisas - calça de ginástica, camiseta - e uma bolsa grande suficiente para caber o kit-imigrante - celular e passaporte.

Eu estava animada com todas as berries que eu estava comprando, as velas cheirosas para a casa nova e as bolachas recheadas de peanut butter! Era o primeiro mês nos EUA e eu me sentia como se pudesse dominar o mundo!



2 meses depois:

Eu precisava comprar shampoo pela primeira vez nos EUA. O que eu trouxe do Brasil tinha acabado e lá fui eu. Mesma target, mesma roupa, mas o nível de energia totalmente diferente. Eu estava exausta.


Photo by Kinga Howard on Unsplash

Eu lembro de entrar no corredor de shampoo e perder o ar. Peraí, tem um corredor inteiro de shampoo? Cadê o meu Pantene de sempre? Eu senti uma avalanche vindo na minha direção. Um milhão de opções, marcas que nunca ouvi falar, palavras que não sabia se serviam pro meu cabelo... Um monte de mulheres sorridentes nas embalagens: elas sabiam de algo que eu não sabia.


Meu marido estava na parte de congelados, quando eu o encontrei 15 minutos depois, de mãos abanando. Eu não consegui tomar uma decisão. Eu não queria tomar uma decisão. Eu estava cansada, sobrecarregada e um pouco envergonhada que uma tarefa simples como escolher um shampoo se tornou algo tão complicado.

Eu decidi que eu ia usar o shampoo dele por enquanto.



Eu não sabia naquele momento, mas a minha crise do shampoo foi um sintoma de algo chamado: Fadiga do Expatriado (ou Fadiga Cultural)


Segundo o autor David L. Szanton:

A Fadiga Cultural é a exaustão mental e física que é, invariavelmente, resultado de infinitos pequenos ajustes necessários para a sobrevivência em uma cultura diferente.

Ele explica que o esforço necessário de ter que, constantemente, avaliar coisas novas e se adaptar a um novo ambiente consome um quantidade enorme de energia, deixando o indivíduo exaurido.


Quando nós mudamos para um país diferente como adultos nós temos que entender muito rapidamente como as coisas funcionam. Decisões simples como escolher o melhor supermercado, o banco, a companhia de celular - que seriam muito simples no nosso país de origem - se tornam exaustivas no exterior.


Isso porque a "vida adulta" é cheia de responsabilidades e decisões e, no nosso país de origem, elas vem aos poucos e com uma rede de suporte para explicar como as coisas funcionam. Por exemplo: abrir a conta no banco em que seus pais tem conta em um ano, no ano seguinte, tirar carteira de motorista, etc.



Então, o que fazer? Eu mudei para outro país e eu quero construir minha vida aqui, mas não quero ter burnout.


Baseado na minha própria experiência e meus atendimentos de coaching, seguem alguns passos práticos:

  1. Tenha o hábito de se observar e identificar quando você estiver cansada do constante avaliar, aprender e tomar decisões. É uma questão de QUANDO você vai estar cansada e não SE. Vai acontecer, tá?

  2. E por causa do item anterior, crie espaço para descansar. Para não fazer ou resolver nada. Somente para recarregar as energias.

  3. Peça ajuda! Eu acredito que cada pessoa tem uma peça do quebra-cabeça e pedir recomendações ou dicas pra pessoas locais ou outras expatriadas facilita muito!

  4. Liste tudo que você precisa resolver e, o mais importante, decida QUANDO você vai fazê-lo. Algumas coisas são importantes e urgentes, outras não. Decidir onde abrir uma conta de banco vale o esforço extra de pesquisa, decidir a sua marca de shampoo favorita pode deixar pra depois.

  5. Esteja OK em cometer erros. E se divirta com as coisas erradas que você invariavelmente vai fazer :)


Você se identificou e quer ajuda pra lidar com este período tão difícil? Vamos conversar! Marque uma sessão experimental gratuita

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